quarta-feira, 22 de julho de 2015

"Série Entrevistas XXIII: Sr. Vagner Rogério Crivellari"

Nome: Vagner Rogério Crivellari.
Filiação: Antônio Angelo Crivellari e Maria Helena Ribeiro Barreto.
Estado: São Paulo - SP.
Nascimento: 25/03/1974.
Profissão: Diretor de Departamento Público.

Entrevista realizada no mês de julho de 2015 pelo pesquisador Guilherme Jorge Figeira com o neto do Veterano da Acção Integralista Brasileira - AIB (1932-1937) Sr. José Constante Barreto.

Acima imagem do núcleo Integralista de Rio Claro - SP, o Sr. José Constante Barreto se encontra no lado esquerdo da foto logo atrás do camisa-verde com o braços encostado na mesa (Fonte: Arquivo Público e Histórico de Rio Claro - SP). 

1) Sr. Vagner Crivellari, quais são as primeiras lembranças do senhor referente ao seu avô? O senhor poderia falar um pouco sobre sua personalidade e vida profissional?

Meu avô, o Sr. José Constante Barreto, popularmente chamado de "Barretinho" pelos amigos, foi um homem maravilhoso de um caráter irretocável, com uma grande "coração" e sabedora. Minha primeira lembrança do meu avô vem da infância onde ele me ensinou o que eram países no mapa mundi e suas capitais, numa grande aula de geografia que durou por semanas, além de me contar muitas histórias de guerras, conflitos e coisas do gênero. 

Foi ai que nasceu em mim uma paixão por história e que por causa de meu avô, me formei nessa área tirando nota 10 com louvor em meu TCC que fala sobre o ódio nazista e as atrocidades da segunda grande guerra, pena que meu avô não estava aqui para ver minha apresentação e formatura. 

Meu querido avô era um homem apaixonado por música, a boa música dos anos 1930,1940 e 1950, e colecionava discos de 78 rpm. Acredito que sua coleção ultrapassava mais de mil exemplares. Tinha também um grande acervo em fitas K7 tudo bem catalogado por ele mesmo. Colecionava muitos livros e era um assíduo leitor das grandes obras da literatura brasileira. Sua formação escolar não chegava a 4° série, mas sabia tudo de Machado de Assis, José de Alencar, Euclides da Cunha, Rui Barbosa, Mario de Andrade, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Aluisio de Azevedo, entre tantos outros. Era tão sábio e inteligente que sabia em que ano foram lançadas as edições das maiores obras desses escritores. Falava o tupi-guarani e lia as obras de José de Alencar com a maior tranquilidade do mundo, para quem não sabe, para ler as obras desse escritor você precisa ter ao lado um dicionário tupi-guarani. Com isso, se tornou escritor também e fazia crônicas para o editorial de um jornal de Rio Claro. 

Era com certeza um dos maiores defensores de Plínio Salgado, para ele o maior homem que conheceu, o qual sempre defendeu e ostentando em sua sala quadros com imagens de Plínio e do Sigma. Era leitor incansável das obras de Plínio, seu amigo, e de artigos relacionados ao Integralismo. Lia e relia tudo com entusiasmo visando sempre aumentar seu conhecimento, mesmo quando a vista não lhe ajudava mais e fazia suas leituras com a ajuda de um grande lupa. Tinha uma sede do "conhecimento" que impressionava as pessoas ao seu redor. 

Como profissão era eletricitário e trabalhou por muitos anos na antiga CESP, porém antes disso, não sei lhe informar, só sei que foi adotado por uma família rica Rioclarense que o encontrou em um hospital em São Paulo que cuidou dele até 18 anos de idade. A partir daí ele seguiu seu caminho e foi ganhar a vida na cidade de Santos - SP onde conheceu sua primeira mulher ao final dos anos 1920, com quem se casou e teve um filho. Conheceu e militou diretamente na Acção Integralista Brasileira, sendo um dos líderes em Santos e posteriormente foi convocado a implantar a AIB no interior paulista, escolhendo sua cidade de origem, vindo entçao morar em Rio Claro - SP. Nesse meio tempo, lutou fardado em trincheiras na Revolução Constitucionalista de São Paulo em 1932. Em 1937 foi perseguido, preso e exilado no Uruguai. PErdeu sua esposa ao final dos anos 1950 vítima de Mal de Parkinson. Posteriormente perderia seu filho também pelo mesmo problema em 1974. Casou novamente com sua segunda mulher, minha avó, com quem teve duas filhas. 

2) Seu avô, como muitos outros jovens do período fez parte da Acção Integralista Brasileira, por qual motivo o senhor acredita que o movimento Integralista o atraiu para suas fileiras? Houve outros parentes que também fizeram parte? Em qual núcleo? Chegaram a ocupar algum cargo de destaque? 

Meu avô seguiu o caminho do Integralismo, pois como eu disse, ele sempre foi um homem que adorava a leitura e tão logo viu o movimento, tomou conhecimento com sua doutrina, o que fez com que entrasse na ação ativamente. Acredito que meu avô seguiu esses passos, pois ele sempre me revelou que não acreditava que uma nação alcançaria sucesso e o equilíbrio, sendo governada pelo povo de forma democrática, muito menos pelos comunistas. Ele pregava sempre a palavra "líder", o qual confiava piamente e que acreditava que a nação deveria ser governada de forma totalitária por esse líder num sistema de nacionalismo. De minha família somente meu avô fez parte da AIB, mas tem foto com ele, sua esposa e seu filho bem pequeno, todos fardados de Integralistas. Não sei dizer que cargo meu avô ocupava dentro da AIB, só sei lhe dizer que ele era um dos líderes em Santos, amigo pessoal de Plínio Salgado e se lhe foi confiada a missão de propagar os ideais Integralista no interior de SP, é porque ele era de alta patente dentro do movimento e de extrema confiança pela liderança. 

3) Muitos camisas-verdes após o fechamento da AIB, em 1937, sofreram perseguições, sendo inclusive presos e torturados. Ocorreu algum tipo de perseguição durante o Estado Novo (1937-1945) contra seu avô que tinha publicamente fortes ligações com o líder Integralista Plínio Salgado?

Meu avô contava-nos que após o Golpe de 1937 toda a entrutura da AIB foi desmazelada com a perseguição e prisão de qualquer um que fosse envolvido com o movimento. Ele foi preso, sua casa foi toda vasculhada, e por falta de provas, pois ele havia bem escondido todo o material Integralista, foi solto. Sobretudo, teve que fugir e se exilar por um pequeno período no Uruguai devido à perseguição implacável da polícia. 

Voltou e viu que era proibido até de falar a palavra Integralismo, dessa forma reiniciou sua vida decepcionado com a política no país e sem esperança de mudar o Brasil para melhor. Só com a volta de Plínio depois do exílio, é que ele voltou a se empolgar, porém momentaneamente, pois vira que o Partido de Representação Popular - PRP, nação atingiria os objetivos e metas da AIB. Entretanto nunca perdeu contato com os colegas da AIB e trabalhava ativamente pela doutrina. 

4) Sr. Vagner, seu avô, realizou uma grande doação do seu acervo pessoal ao Arquivo Público e Histórico de Rio Claro, doando diferentes materiais relacionados ao Integralismo. Como foi esse processo de doação? Após a entrega do material ele continuava a frequentar o Arquivo?

Meu avô sabia da importância de seu acervo, contudo foi se desfazendo dele gradativamente, doando grande parte para o Arquivo Público e Histórico de Rio Claro, que já tinha também um bom acervo doado pela esposa de Plínio Salgado. Ele frequentava assiduamente esse Arquivo quase que diariamente, ironia do destino foi voltando de uma visita ao arquivo que ele foi atropelado. Uma outra parte do acervo de meu avô que não deu tempo de ser doado ao Arquivo, foi vendida pela minha avô a um amigo de meu avô após seu falecimento. Os anos se passaram e esse amigo de meu avô também faleceu, e não sei dizer o que a família dele fez com esse material. Só para se ter uma ideia, nesse material tem foto de meu avô deitado numa trincheira na Revolução de 1932, e fotos de sua família no auge da AIB em Santos - SP, além de documentos pessoais e demais itens. 

5) Por fim, qual a mensagem que o senhor deixa a todos os jovens que atualmente buscam informações sobre a história do Brasil, em especial do Integralismo? 

Como historiador e neto desse grande homem, posso garantir que não se constrói uma nação ignorando o seu passado. A busca pelo conhecimento da história de um provo proporciona a esperança de um futuro melhor. E por meio desse conhecimento que erros não irão se repetir. Por esse conhecimento a pátria irá preservar a imagem de seus líderes e de homens que deram suas vidas para fazer uma nação melhor. Busquem, estudem, leiam e conheçam a verdadeira história da nossa nação, pois só assim, teremos os olhos desvendados e entenderemos melhor quem somos, e assim, decidir o rumo de nosso país. 


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Abaixo lista de entrevistados:

Entrevista XXII: Sr. Zigmar Raeder: (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2014/12/serie-entrevistas-xxii-sr-zigmar-raeder.html);

Entrevista XXI: Sr. Alberto de Oliveira: (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2014/11/serie-entrevistas-xxi-sr-alberto-de.html);

Entrevista XX: Sra. Teresinha Gretter: (http://www.historia-do-prp.blogspot.com.br/2014/09/serie-entrevistas-xx-sra-teresinha.html); 

Entrevista XVII - Gustavo Luz Barreto: (http://www.historia-do-prp.blogspot.com.br/2014/05/serie-entrevistas-xvii-gustavo-luz.html);

Entrevista XI: Sra. Ana Carolina Monteiro Porto de Oliveira (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/11/serie-entrevistas-xiii-sra-ana-carolina.html)

Entrevista IX Sra. Lieden Maria de Oliveira Carvalho (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/07/ssss.html)

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